É Natal!

Mas, afinal, o que é o Natal?

O Natal é um acontecimento simultaneamente profundo e simples, particularmente num mundo como o atual.

O Natal é o nascimento de uma criança deitada numa manjadoura. Esse acontecimento simples pode passar despercebido no meio de tantos pais natais e a sua profundidade pode ficar esquecida ou até deixar-nos indiferentes. Ora, a primeira coisa que Deus salvou foi a família, ao permitir a José e Maria ter um lar, dando-lhes a alegria de um nascimento novo. Cada nascimento acrescenta beleza ao mundo, a beleza da criação.

O Natal é, então, poder participar no advento de um mundo mais belo, mais humano, pintado com a cor mais bela, a da bondade.

O Natal lança-nos um desafio, renovado a cada dia: O que irás criar, hoje? Como vais deixar o mundo melhor?

Os alunos do Ensino Básico, dos 10.º e 11.º anos do Curso com Plano Próprio de Ação Social e do 11.º ano do Curso com Plano Próprio de Design, Cerâmica e Escultura responderam com um gesto concreto de solidariedade. O que fizeram? Deitaram mãos à obra e criaram postais para 362 idosos residentes em Lares de Fátima. E todos foram personalizados com um nome próprio! Com uma simples ilustração e quantas palavras, os alunos conseguiram aquecer os corações dos idosos com a sua dedicação, esforço, imaginação e ternura. Os sorrisos dos idosos foram muitos e a alegria de se saberem presença no pensamento e no coração dos alunos tornou o momento marcante nas suas vidas. Foi um belo acontecimento, porque acrescentou humanidade ao mundo. Viver o Natal é isto mesmo: pensar no próximo “mais próximo”, dar o bem mais preciso que temos, o nosso tempo, e dedicar-lhe a nossa atenção, o nosso afeto. Esperamos ter despertado o sentido da solidariedade no coração dos nossos alunos. A alegria dos idosos foi uma evidência!

Hoje (dia 24 de dezembro), os utentes das instituições parceiras neste projeto “Postais de Natal” – Lar dos Pastorinhos, Fundação Arca da Aliança – Aldeia Intergeracional, Primus Vitae, Lar de Betânia, Qualisénior e Santa Casa da Misericórdia Fátima-Ourém -, irão ver o vídeo que partilhamos convosco.

Desejamos que a “seiva da juventude” possa reavivar a fé e a esperança de cada um de nós num mundo mais humano.

Despedimo-nos com um texto belíssimo de Jean-Paul Sartre, filósofo existencialista ateu, que no Natal de 1940, aquando do seu cativeiro num campo de concentração alemão, escreveu para levar a esperança aos corações dos presos através do maravilhamento do nascimento de Jesus. (O Espírito Santo sopra onde e quando quer!).

«Têm o direito de exigir que vos mostrem o Presépio. Aqui está.

(…)

A Virgem parece pálida e olha para o menino. Pintado no seu rosto deveríamos ver um ansioso deslumbramento, nunca antes visto num rosto humano, pois Cristo é o seu filho, carne da sua carne e fruto das suas entranhas. Ela carregou-o no ventre nove meses. Alimentou-o com os seios e o seu leite tornar-se-á sangue de Deus. Ela envolve-o nos braços e diz-lhe: “meu pequeno”!

Mas, noutros momentos, só pode permanecer em silêncio e pensar: “Deus está aqui”; e invade-a um religioso temor face a este Deus mudo, face a esta criança…porque todas as mães ficam assim, em êxtase, por momentos, diante deste fruto das suas entranhas, da sua carne, e sentem-se como que exiladas perante esta nova vida feita com as suas vidas…

(…)

E nenhuma outra mulher teve Deus assim, só para si. Um Deus pequenino que se pode envolver nos braços e encher de beijos, um Deus tão cálido, que sorri e que respira, um Deus que se pode tocar e que vive… e é nesses momentos que eu pintaria Maria, se eu fosse pintor, e tentaria captar esse ar de profunda ternura e de timidez com o qual ela estende o dedo para tocar a suave pele do menino Deus, que lhe pesa suavemente sobre os joelhos e que lhe sorri. Aqui está Jesus e a Virgem Maria.

E José. José? Eu não o pintaria. Mostraria apenas como que uma sombra ao fundo, de olhos brilhantes, pois não sei que dizer sobre José. E o próprio José não sabe o que dizer sobre ele… Ele adora e sente-se feliz por adorar.”

(Excerto do texto da peça de teatro Bariona ou o Filho do Trovão.)

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